Lgbtfobia na tradição religiosa Iorubá do Ifá: especulações e práticas da heteronormatividade
DOI:
https://doi.org/10.22481/odeere.v3i3.1575Palavras-chave:
Educação Intercultural, Etnofilosofia, Estudos de Gênero, IfáResumo
Este artigo está inserido na área de concentração de educação intercultural, etnofilosofia e estudos de gênero, com ênfase nas pressuposições teóricas pós-identitárias advindas com os estudos queer. Assim, o presente artigo tem como objetivo geral promover um estudo histórico-descritivo sobre a efabulação e o enclausuramento do espírito “queer” na comunidade religiosa yorùbá em territorialidades nigerianas, bem como, se propõem a revistar as representações sociais dos modelos heteronormativos de depredação, de submissão e de abjeção de indivíduos de orientação sexual ou de identidade sexual não heterossexual nas práticas e iniciações religiosas de sacerdócio do Ifá no Brasil. A análise que se segue busca demonstrar, através de fragmentos históricos, como se deu a construção do moralismo e da discriminação LGBTfóbica pelo cristianismo e pelo islão nas comunidades étnicas de matriz ancestral yorùbá em tempos de colonização e pós-colonização na Nigéria. Além da revisão de literatura, trabalhamos com o método de abordagem de pesquisa qualitativa sobre o DAFA - análise de documentos e análise de discursos, complementando estes com alguns nuances da pesquisa etnográfica de natureza virtual. A cultura e a matriz ancestral africana yorùbá é algo muito distante, apesar de estar, ao mesmo tempo, tão próxima, dentro da cultura religiosa afrodescendente brasileira. Muito se tem sido debatido, ressignificado, reconstruído e analisado dentro do Brasil sobre a realidade e a história da cultura africana e afrodescendente. Todavia, este artigo demonstra a possibilidade de reinventarmos o que ainda não foi pensado, de quebrarmos as nossas próprias barreiras e de nos aproximarmos, nós afrodescendentes, de nossas origens, de nossa cultura griot, de nossas pretagogias, de nossos Arché, de nosso Àşé, ou seja, de toda uma cosmovisão que nos separam do espírito da pureza, e respectivamente, que nos distanciam de Eèlà.
Palavras-Chave: Educação Intercultural, Etnofilosofia, Estudos de Gênero, Ifá.
Downloads
Referências
ADEPOJU, Adunola. Sexuality in Nigeria: Evolution, Challenges and Prospects. Africa Regional Sexuality Resourge Centre. Lagos, Nigeria, March 24, 2005
ADEBOYE, Olufunke. Elite Lifestyle and Consumption in Colonial Ibadan. ADELAMI, Louis (org.). The Fundations of Nigeria: Essays in honor of Toyin Falola. Asmara: Africa World Press, 2003, p. 33.
ALENCAR, Yohana Maria Monteiro Augusto de; MELO, Miguel Ângelo Silva de. Shariah, um direito penal homofóbico escancarado, uma outra forma de conceber o direito penal ou uma ressignificação da violação aos direitos humanos? In: MELO, Miguel Ângelo Silva de, et al. (org.). Epistemologias em confronto no Direito: reinvenções, ressignificações e representações a partir da interdisciplinaridade. Curitiba: Editora CRV, 2017, p. 237-256.
ANTUNA, P. Raul Ruiz de Asúa. Cultura Tradicional Banto. 2 ed. Luanda: Secretariado Arquidiocesano de Pastoral. 1993.
BAJAHA, Binta. Pós-colonial Amnesia: The Construction of Homosexuality as “un-African”, Ibadan, 2015.
BENIN, Ministère de L’education Nationale, Commission Natinale de Linguistique, Porto Novo: BP. 1975.
BENIN, Guide Pratique de Transcription du Fongbe und du Yoruba, Direction de L’Alphabetisation, Cotonou: BP, 1995
BEST, Joel. Random Violence - How We Talk about New Crimes and New Victims. New York – Boston: Random, 1985, p. 48-49.
BRASIL, República Federativa do. Projeto de Lei Complementar 103/ 2012. Brasília: PNE, 2012. Disponível em: Atividade Legislativa.
BRYMAN, Alan. The nature of qualitative research. BRYMAN, Alan. Social Research Methods. New York: Oxford University Press: Third edition, 2008.
CAPO-CHICHI, Virgile; KASSEGNÉ, Sethson. Homosexuality in Africa. Myth or Reality? Na Etnographic Exploration in Togo, West Africa. 5th African Population Conference. Arusha, Tanzania. December 10-14, 2007
CASTRO, Armando de. O sistema colonial português em África. Lisboa: Ed. Caminho, 1978.
CELLARD, André. A análise documental. In: POUPART et. al. A pesquisa qualitativa: Enfoques epistemológicos e metodológicos. Tradução Ana Cristina Nasser. Petrópolis-RJ: Editora Vozes, 2008, p. 295.
CUNHA JÚNIOR, Henrique Antunes. Nós-Afro-descendentes: História Africana e Afrodescendente na Cultura Brasileira In: ROMÃO, Jeruse (org.). História da Educação do Negro e outras histórias. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação: 2005, p. 132-154.
DILTHEY, Wilhelm. Der Aufbaum der geschichtlichen Welt in den Geisteswissenschaften. Stuttgart: Teubner, 1958.
GROULX, Lionel-Henri. Contribuição da pesquisa qualitativa à pesquisa social. POUPART, Jean et. al. A pesquisa qualitativa: Enfoques epistemológicos e metodológicos. Tradução Ana Cristina Nasser. Petrópolis-RJ: Editora Vozes, 2008, p. 84-113.
FALOLA, Toyin; HEATON, Matthew M. A History of Nigeria. London: Cambridge University Press, 2008.
FALOKUN, Awo Fagbemiro. Outra Posição de Ifá sobre Homossexualidade & Lesbianismo. Tradução e adaptação de Erick Wollf. p. 1-5. In: Revista Olorun, n. 21, out. 2014.
FLICK, Uwe. Pesquisa qualitativa online: a utilização da internet. FLICK, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2009, p.238-253;
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983.
GREENBERG, Jan; KRAUSE, Hans. Lexikon der Afrikanistik, afrikanische Sprachen und ihre Erforschung. Berlin: Dietrich Reimer Verlag, 1993.
HEGEL, G. W. F. Filosofia da história. 2.ed. Brasília: Editora da UnB, 1999
HINE, C. Virtual Methods and the Sociology of CyberSocial-Scientific Knowledge. In: C. HINE (org), Virtual Methods. Issues in Social Research on the Internet. Oxford: Berg, 2005.
JOHNSON, Samuel. The history of the yorubas, From the Earliest Times to the Beginning of the British Protectorate. Lagos, 1967.
KI-ZERBO, Joseph. Ki-Zerbo, J (Org): História Geral da África. Metodologia e pré-história da África. São Paulo, Editora Ática/Paris: UNESCO, 1982, Vol. 1
JUNGRAITHMAYR, Hermann; MÖHLIG, Wilhelm. Die Yoruba und die westafrikanischer Kwa- Sprachen, 1880.
LOURO, Guacira. “Pedagogias da sexualidade”. LOURO, Guacira. (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
MARÍAS, Julián. História da Filosofia. Tradução Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
MELO, Miguel Ângelo Silva de, et al. A importância das redes sociais “marginais” na preservação da tradição religiosa africana no Cariri Cearense In: MELO, Miguel Ângelo Silva de, et al. (org.). Saberes e Dizeres no Cariri Cearense. Gênero, religiosidades, africanidades e segurança pública. Curitiba: Editora CRV, 2016, p. 153-174.
MELO, Miguel Ângelo Silva de; BANDEIRA, João Adolfo Ribeiro. Crítica aos estereótipos e ideias racistas no Brasil sob o prisma dos estudos Pós-coloniais. Revista Direito & Práxis, vol. 07, N. 15, 2016, p. 213-246.
MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil. Identidade nacional versus identidade negra. 3. Ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008.
OYEBADE, Adebayo. The Foundations of Nigeria: Essays in honor of Toyin Falola. Asmara: Africa World Press, 2003
SANTOS, Boaventura de Souza. Uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. SANTOS, Boaventura de Souza (org.). Gramática do tempo: para uma nova cultura política. 2ed. São Paulo: Cortez, 2008
SILVA, Mariana Martha de Cerqueira. Africanidades e educação popular: uma análise de propostas e vivências pedagógicas de movimentos negros em Sorocaba. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de São Carlos, Campus Sorocaba. 2014.
SCHÖNECK, Nadine M./ VOSS, Werner. Das Forschungsprojekt. Planung, Durchführung und Auswertung einer quantitative und qualitative Studie.VS Verlag für Sozialwissenschaften/GWV Fachverlag GmbH, Wiesbaden 2005.
TRIMINGHAM, S. J. History of Islam in West Africa. London: OUP Edit, 1962.
STEINERT., Hans, 2000, Apud., MELO, Miguel A. S. de. Die Menschenrechtsverletzugen durch Hassverberchen. Eine Analyse der homophoben Gewalt am Beispiel Brasiliens, 2001, p. 103-14.
OYEBADE, Adebayo (Ed.) The Foundations of Nigeria: Essays in honor of Toyin Falola. Asmara: Africa World Press, 2003.
PETIT, Sandra Haydée; CRUZ, Norval Batista. Arkhé: Corpo, Simbologia e Ancestralidade como Canais de Ensinamento na Educação. 31ª Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação congregará, no período de 19 a 22 de outubro de 2008.
PETIT, Sandra Haydée. Pretagogia: Pertencimento, corpo-Dança Afroancestral e Tradição Oral. Cotnribuições do Legado Africano para a Implementação da Lei nº. 10.639/03. Fortaleza: EdUECE, 2015, p. 108-109.
POPOLA, Chief Oluwo Solagbade. A posição de Ifa sobre Homossexualismo/ Lesbianismo. Tradução e adaptação de Luiz L. Martins, p. 1- 8. In: Revista Olorun, n. 21, nov. 2014
SOYINKA, Wole. Die Last des Erinnerns. Was Europa Africa schuldet – und was Afrilka sich selbst schuldet. Regensburg: Friedrich Pustet Verlag, 2001.
ROSENFELD, Michel. Hate Speech in Constitutional Jurisprudence: a comparative analysis. Cardozo Law Review, New York, 24, n. 4, abril 2003.
POPE-HENNESSY, James. Geschäft mit schwarzer Haut. Die Geschichte des transatlantischen Sklavenhandels. Wien, Münschen, Zürich: Verlag Fritz Molden. 1970.
TOKPONTO, Mehsah Wekenon. Deutsch-beninische Märchen in der Fon-Sprache mit phonetischer Transkription, studie und Darstellung der Hauptfiguren und Themenvergleich. Reihe I Deutsche Sprache und Literatur. Frankfurt am Main, Berlin, Bern, Bruxelles, New York, Oxford und Wien: Peter Lang Verlag. Europäscher Verlag der Wissenschaften. (Europäscher Hochschulschriften.), 2003.
SICK, Endre. Histoire de l’Afrique Noire. Budapeste: Akademia Kiado, 1965, p. 19.
SCHIFFERS, Heinrich; SIMONS, Peter. Afrika. Das Bild des dunklen Erdteils, als die Weißen kamen. München, Köln: Bertelsmann Verlag, 1980.
FALL, Yoro. História geral de Africa. Africa entre los Siglos XII e XVI. Vol. I/ - IV. Barcelona, Madrid: Tecnos, Unesco, 1985 (Coleção de D.T. Niame).
TRIMINGHAM, S. J. History of Islam in West Africa. London: OUP Edit, 1962.
MURRAY, Rachel. Human Rights in África: From the OAU to the African Union. Cambridge: Cambridge University Press, 2004, p. 41.
OLIVEIRA, Guilherme Ziebell de. Nigéria - História da Política Externa e das Relações Internacionais. Monografia de Conclusão de Curso (Faculdade de Ciências Econômicas e Relações Internacionais). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2012; RIMINGHAM, S. J. History of Islam in West Africa. London: OUP Edit, 1962.
HIRSCHFIELD, Claire. The diplomacy of Partition: Britain, France and the creation of Nigeria, 1890/ 1898. The Hague: Martinus Nijhoff Publishers, 1979; IWERIEBOR, Ehiedu e. G. Nationalism and the Struggle for Freedom, 1980.
VIANA, Waldiane Sampaio. Manifestações Homofóbicas em Espaços Públicos: Praças da Gentilância em Fortaleza. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Universidade Federal do Ceará. 2009.
WEINBERG, George. La Homosexualidad Sin Prejuicios: Um revolucionário enfoque psicológico. Traducción: Martha Mastrogiácomo [Society and the Healthy Homosexual, 1972]. Cubierta Carlos Roland. 2. ed. Colección Liberd y Cambio. Buenos Aires – Barcelona: Granica Editor, 1977, p. 56.
WILLIAMS, Lizzie. Nigeria. The bradt travel guide. First edition. London, New York, Chicago: Globe Pequot Press, 2005.
WHEEN, Francis. Karl Marx. Tradução de Vera Ribeiro. São Paulo: Record, 2001.
WOLLF, Erick. A homossexualidade abordada na religião Yorùbá. Revista Olorun, n. 8. Abril 2012. ZIÈGLER, Jean. La contre-révolution en Afrique. Paris: Payot, 1971. 234p. Apud., ANTUNA, 1993.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 ODEERE

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Você é livre para:
Compartilhar - copia e redistribui o material em qualquer meio ou formato; Adapte - remixe, transforme e construa a partir do material para qualquer propósito, mesmo comercialmente. Esta licença é aceitável para Obras Culturais Livres. O licenciante não pode revogar essas liberdades, desde que você siga os termos da licença.
Sob os seguintes termos:
Atribuição - você deve dar o crédito apropriado, fornecer um link para a licença e indicar se alguma alteração foi feita. Você pode fazer isso de qualquer maneira razoável, mas não de uma forma que sugira que você ou seu uso seja aprovado pelo licenciante.
Não há restrições adicionais - Você não pode aplicar termos legais ou medidas tecnológicas que restrinjam legalmente outros para fazer qualquer uso permitido pela licença.